Mortos em seita de jejum extremo no Quênia chegam a 103
Pastor teria incentivado fieis a ficar sem comer para "conhecer Jesus", segundo investigação. Três pessoas foram resgatadas com vida
Publicado em 28 de abril de 2023, às 14h:41
Detetives conduzem o pastor Ezekiel Ombok Odero, investigado por envolvimento na morte de seus seguidores, em Mombasa, Quênia
REUTERS/Stringer
Detetives conduzem o pastor Ezekiel Ombok Odero, investigado por envolvimento na morte de seus seguidores, em Mombasa, Quênia REUTERS/Stringer

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Um televangelista queniano foi preso nesta quinta-feira (27) após relatos do “assassinato em massa de seus seguidores”, disse o ministro do Interior, enquanto autoridades investigam dezenas de outras mortes ligadas a um culto religioso da mesma região.

À medida que as notícias da detenção do pastor Ezekiel Odero se espalhavam, as autoridades disseram que o número de mortos chegou a 103 na investigação paralela do culto que chocou o país. Não está claro se os dois casos estão ligados.

Odero, vestido com túnica branca e carregando um grosso livro preto, não respondeu às perguntas dos repórteres ao ser escoltado até uma delegacia por um policial uniformizado. A reportagem não conseguiu contato com nenhum advogado que o represente.

As autoridades retiraram mais várias pessoas que estavam “entocadas” no Centro de Oração e Igreja Nova Vida, de Ezekiel Odero, na pequena cidade de Mavueni, no sudeste do Quênia, disse o ministro Kithure Kindiki no Twitter.

Odero estava “sendo processado por acusações criminais relacionadas ao assassinato em massa de seus seguidores”, acrescentou Kindiki, sem entrar em detalhes sobre quantas pessoas morreram. Ele não fez comentários sobre se os casos estavam ligados.

A prisão de Odero está ligada a “alegações de mortes que ocorreram em suas instalações e relatadas em vários necrotérios ou instituições”, disse a repórteres a autoridade regional Rhoda Onyancha.

Mavueni fica a cerca de 66 km da floresta de Shakahola, onde outro pastor, Paul Mackenzie, é acusado de ter ordenado que seus seguidores morressem de fome antes de o que ele previu que seria o fim do mundo em 15 de abril.

Mackenzie está sob custódia da polícia desde 14 de abril e não fez nenhum comentário público sobre as acusações.

Desde sexta-feira, os investigadores desenterraram corpos de 95 membros de sua autoproclamada Igreja Internacional da Boa Nova de covas rasas na floresta, e outros oito foram encontrados vivos, mas depois morreram.

O número de mortos, já um dos piores na história recente de tragédias relacionadas a cultos, deve aumentar ainda mais, já que a Cruz Vermelha do Quênia diz que mais de 300 pessoas estão desaparecidas.

A reportagem conversou com dois advogados que atuam em nome de Mackenzie, mas ambos se recusaram a comentar as acusações contra ele, dizendo que não tiveram tempo suficiente com seu cliente desde a descoberta das valas comuns para receber instruções adequadas dele.

Uma devota da seita queniana de pessoas que jejuaram até morrer, em 24 de abril de 2023 — Foto: Reuters

Nthenge foi preso há dez dias, mas seus seguidores seguem escondidos jejuando, segundo a polícia.

Parte dos corpos estava em uma vala comum em uma floresta na região, onde o grupo costuma se reunir para realizar cultos. Mas o chefe das investigações local, Charles Kamau, afirmou que a polícia ainda busca por desaparecidos – alguns fiéis estão escondidos, ainda de acordo com as investigações, para que possam seguir jejuando.

Membros da seita teriam feito jejum até morrer. Corpos estavam em vala comum. — Foto: REUTERS/Stringer

Na semana passada, as autoridades encontraram os corpos de quatro adeptos da igreja. Os investigadores chegaram à região após uma denúncia que apontava a existência de uma possível vala comum. Muitos adeptos da seita ainda estão escondidos em uma área de mata para fazer o jejum.

Uma mulher que se recusava a ingerir alimentos e com sinais de fraqueza foi encontrada no domingo (23). Ela foi então levada por autoridades a um hospital. Outros 11 fiéis, sete homens e quatro mulheres de entre 17 e 49 anos, foram hospitalizados na semana passada após também serem encontrados na floresta, conhecida como Shakahola.

Investigador entra em área isolada para exumar corpos de supostos membros de seita cristã no Quênia que pregava jejum — Foto: Stringer/Reuters

Em um relatório, a polícia indicou que recebeu informações sobre várias pessoas “mortas de fome com o pretexto de conhecer Jesus depois que um suspeito, Makenzie Nthenge, pastor da Igreja Internacional da Boa Nova, fez nelas uma lavagem cerebral“.

De acordo com a mídia local, Makenzie Nthenge já havia sido detido e indiciado no mês passado depois que duas crianças da seita morreram de fome. No entanto, ele pagou uma fiança de 100.000 xelins quenianos (cerca de R$ 3,7 mil) e foi liberado.

Por: Cnn

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